Ceviches, Tacos & Tears
Chegou ao El Clandestino, na R. da Rosa, vinda do Cais do Sodré
a pé onde tinha estacionado. Agora era sempre a subir até chegar ao
restaurante. Sabia que era impossível estacionar no Príncipe Real pela
hora do jantar, ainda para mais numa quinta-feira. E, para variar, estava
atrasada. Já lá deviam estar todas.
A cabeça a mil. As ideias bailavam entre o relatório de entrega de fecho
que não tinha conseguido acabar, reuniões infindáveis o dia todo, o seguro
do carro, devolver chamadas, tudo a correr, como sempre. E depois... Depois, a
meio da tarde... a bomba.
Quando chegou parou um minuto à entrada impressionada com o painel de
madeira gigante com casas coloridas amontoadas e iluminadas, à esquerda de quem
entra. “Favela Vidigal”, feito à medida para o espaço, soube mais tarde. O
restaurante parecia ser também uma galeria de arte e estava cheio! Nas mesas,
umas altas com bancos, as pessoas conviviam animadamente, num ambiente
descontraído. Os empregados passavam atarefados com pedidos e pratos coloridos
com ceviches, tacos e muitos shots e margaritas. Parecia que dançavam ao som da
musica, alta, a condizer com o espírito. Da entrada dá para espreitar a azáfama
da cozinha, aberta ao público. Era daí que saiam as iguarias, numa mistura de
opções mexicanas e peruanas, a nova tendência que parece que veio para ficar. Pelo
menos ela achava que sim. No andar de cima, uma mezzanine também com mesas e ao
fundo um pequeno pátio decorado com objectos de cores garridas
fazendo alusão a um cemitério mexicano.
- Mariana! Estamos aqui. Que fazes aí parada?
- Desculpem o atraso! Estava difícil.
As conversas começavam a atropelar-se. Era sempre assim. Os temas
variavam entre família, as novas conquistas dos filhos, fotos das últimas
viagens feitas a dois, algumas novidades e muitos desabafos de chefias e
colegas. Estes jantares, onde o tempo voava, apesar de não se realizarem com a
frequência desejada, eram como que sagrados. Partilhavam-se desabafos, dúvidas,
dilemas, experiências e boas energias! Sempre com grande dose de franqueza
que a intimidade entre todas assim o permitia.
A empregada, diligente, com um sorriso pronto, queria tirar os pedidos, mas
percebeu que tinha de
regressar mais tarde. Com tanta conversa ninguém viu os menus. O couvert já
tinha sido devorado. Totopos (nachos fritos caseiros) com 3 molhos (4,50€). A
guacamole estava ótima, fresca e com muito boa consistência.
Finalmente pediram. Tacos e ceviches para partilhar. O taco de leitão
cozinhado a baixa temperatura (8.30€) foi o favorito. Todos muito bem
recheados, alguns com opções picantes. Nos ceviches o Clandestino levou nota
mais alta (9€). A empregada teve sempre o cuidado de dar explicação dos pratos,
confecção e ingredientes à medida que surgiam as perguntas.
Acompanharam com margaritas. Foi difícil escolher entre 12
opções. A Triple Citrus (6€) com sabor a citrinos foi a mais votada.
Os grupos de amigos, casais e alguns grupos estrangeiros continuavam a a
encher a casa.
De repente, Mariana explodiu:
- O Tiago vai-se casar.
- Mas já? A sério? Ohhh Mariana...
- Nem sei que te dizer.... Como é que soubeste?
- Pelo Facebook. Há alguma coisa que não se saiba primeiro pelo Facebook
hoje em dia?
Era verdade. Nenhuma soube com que argumentos contestar esta frase.
- Como estás?
A velha pergunta de sempre. A velha resposta de sempre. Não sabia.
O silencio impôs-se na mesa. Todas sentiam que lhe custava ainda (e muito)
falar sobre isso.
A Marta quebrou o silêncio.
- Olhem a sobremesa.... Vamos escolher?!
Era melhor mudar de assunto, pelo menos para já.
La bomba de chocolate (chocolate em duas texturas com espuma de pimenta e
malagueta e amendoim caramelizado) foi o favorito (5€). O Jardim de churros com
doce de leite nada enjoativo e espuma de lima (5,50€) também não desiludiu e
ficaram a saber que era o favorito dos clientes.
Mariana não dividiu sobremesa. Se havia motivo forte para furar quaisquer
dietas era aquele.
Ficou a promessa de voltarem. E da próxima vez começariam com um shot, de
entre 15 à escolha.
Mariana
Reis
El Clandestino
Mexicano/Peruano
Rua
da Rosa, 321 (Príncipe Real) Lisboa | 915 035 553
20€/pax.
aproximadamente
Descanso
semanal: Não tem
Das
18h30 às 02:00
Reserva
recomendada
Aceita
cartões
"O amor é tão
importante como a comida. Mas não alimenta."
Gabriel García
Márquez
Sem comentários:
Enviar um comentário