segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

SPOTS TO GO #4

Lavrar a terra, lavrar amizades

Chegou à Quinta do Arneiro no início da tarde, vinda da A8.
Um céu azulão, sem nuvens dava-lhe as boas-vindas e sabia mesmo bem depois de dias nublados com alguma chuva sentir o sol morno de Inverno no rosto. Aquecia a alma. Respirou bem fundo, enquanto fechava a porta do carro. Começou à procura dos óculos escuros na sua mala, que bem pode pesar uns 10 kg, mas que está cheia de todos os bens "essenciais" indispensáveis ao seu dia-a-dia.

Que boa ideia a Teresa ter combinado um lanche longe da cidade! A menos de uma hora de carro, a 40km de Lisboa, um local novo para conhecer e a promessa de uma tarde bem passada. Não poderia desejar melhor programa para o domingo. Quando a Teresa lhe ligou a combinar uns dias antes nem hesitou. Hoje são só as duas neste programa.

Teresa chegou pouco depois e juntas começaram a explorar a Quinta. Um largo muito amplo e arranjado com uma árvore enorme em destaque e um espaço protegido do sol com mesas banquinhos e sofás complementam a decoração rústica acolhendo os que chegam. As tabuletas pintadas à mão com indicações "Horta", "Pomar", "Restaurante" orientam as visitas. Alguns casais e famílias terminavam os seus almoços tardios de domingo conversando animadamente cá fora.

Luísa Almeida, alma e coração do projeto, veio ter com elas com um grande sorriso. Estava disposta a fazer uma visita guiada, quando quisessem, mas antes do sol ir embora, para conhecerem as produções e um pouco da história do espaço que passou para as mãos do seu pai em 1967 e explicar o porquê da agricultura biológica ser a maneira certa de fazer agricultura, sempre com um brilhozinho nos olhos.

Optaram por caminhar um pouco  sem rumo, à descoberta, e, depois, como a fome já apertava, decidiram entrar no restaurante para lanchar. A visita ficou alinhavada, mas com o grupo de amigas completo e almoço nas calmas incluído. Era só vir a Primavera!

O restaurante tem uma decoração muito cuidada em tons de branco e verde água e todas as mesas têm pequenas jarras com flores silvestres. No centro, uma mesa com vasos de plantas  e cabazes de legumes e verduras da época complementam a decoração com um enorme colorido. A cozinha aberta, com os seus azulejos verde esmeralda, atraem logo todos os olhares e de lá vêm as iguarias biológicas que a terra dá, respeitando os seus ciclos, daí o lema da Quinta "biológico com Amor".
 Um segundo piso com mesas é também local de workshops e alguns eventos de empresas.
Escolheram uma mesa longe da porta, já fazia algum frio.

-Mariana – interrompeu Teresa – queria falar contigo. Sinto que te devo um pedido de desculpas.
-A mim? – disse Mariana surpreendida, mas não tirando os olhos do telemóvel, querendo registar tudo em imagens, tirando fotos umas atrás das outras. – Este espaço está mesmo giro!
-Sim, depois do jantar no Miss Jappa, o nosso último jantar, mal falámos e eu não acho que tenha sido correta contigo, primeiro pregando-te um valente susto, depois dizendo para mudares o disco, para não pensares mais naquele que sabemos...
-Oh Teresa pára já por aí. Faz algum sentido pedires desculpas? Tiveste tu muita razão. Entre nós não há cá dessas coisas... Não é fácil em muitas coisas o dia-a-dia, mas agora avancei. Sabes Teresa, todos estes acontecimentos fizeram-me crescer imenso. Teresa debruçou-se como se a quisesse ouvir mais de perto, para melhor absorver as palavras.

A conversa foi interrompida. O lanche vinha aos poucos para a mesa: sumo de beterraba, chá de menta, um crumble de maçã de-li-ci-o-so, pão fresco, húmus, pasta de beterraba, azeite biológico e fruta fresca da época (12€).

- Fico tão contente por te ouvir falar assim.
- Às vezes é difícil. – continuou Mariana – Não me apetece estar com ninguém também neste momento. Sinceramente tantos planos por água abaixo que agora nem quero pensar em temas do coração. Agora America first!, ou melhor, Mariana first!
Riram-se ambas!

- Mas voltando atrás, não fui justa, acho que as minhas palavras te magoaram, não era a minha intenção. Quero ver-te bem. Sabes disso. Sobretudo quero que saibas que contas comigo, seja em que momento for.

Mariana quis mudar o tema de conversa, mas antes olharam uma para outra. Este olhar acompanhado do silêncio disse tudo. E o importante era o agora e aproveitar os momentos presentes. O que passou passou, lá em 2016, como se fosse um ano distante no passado de que nos lembramos vagamente de alguns episódios.
Teresa gostou de ver esta nova amiga e as boas energias!

O lanche estava delicioso, mas foi um bocadinho demorado. No entanto, concordaram que as pressas não faziam parte daquela tarde!
Foram as últimas a sair, já de noite. Antes de partirem espreitaram a mercearia e animaram-se a levar alguma fruta e uma compota de abóbora cada uma para experimentar. Quanto aos cabazes entregues em casa pela Quinta do Arneiro ficaram de investigar mais no website e na página do Facebook as condições e os preços.

Só mais tarde Mariana reparou numa chamada não atendida. Era o Luís, um amigo do irmão. Já não se viam há algum tempo. O que poderia ele querer? No dia seguinte logo pensava se ia devolver a chamada, isto se tivesse tempo. Melhor não. Não deveria ser nada de importante. Deveria era ser engano!


Mariana Reis




Quinta do Arneiro
Biológico / Vegetariano
Azueira 

2665-004 Mafra | 917 663 556

De segunda a sexta: 09:00 às 17:00
Mercearia de quarta-feira a domingo das 09:00 às 18:00
Presença em Mercados Biológicos em Lisboa e Cascais
Almoços e lanches de quarta-feira a domingo
Aceita reservas
Aceita cartões


"Não há boa terra sem bom lavrador"


Provérbio popular 







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